domingo, 5 de abril de 2009

BEM MULHERZINHA


Existem situações nas quais somente uma mulher poderá passar. A depender da situação, uma tonelada de sensações costuma vir no pacote.

O sábado (aquele glorioso dia reservado para fazer coisas bem legais) foi o dia que eu escolhi para ir ao ginecologista / mastologista.

Se eu fosse psicóloga eu iria no mínimo uma vez por mês a uma clínica ginecológica. Melhor que o Big Brother no quesito avaliar os sentimentos humanos.

O lugar está lotado de mulheres (pouquíssimos homens acompanham, normalmente futuros pais) e por incrível que pareça o silêncio é mortal. Quebrado somente com a voz de uma das recepcionistas que chama a próxima.

As revistas são antigas, as Caras são disputadas por olhares dilacerantes, o ar condicionado está no máximo (provavelmente um homem, um dos sócios da clínica instruiu que fosse assim), o café é insosso e o tédio já começou a me cutucar.

Tudo isso é fichinha diante do que me espera. Ficar em uma posição no mínimo humilhante, usar um avental fora de moda e tentar manter uma conversa fiada com a médica enquanto ela enfia aquele aparelho sem te avisar que vai doer (porque aquela porra dói, mesmo com o gelzinho na ponta) e pra finalizar, pensam que seu peito é massa de pão e amassa com toda a brutalidade do mundo.

Até aí, eu agüento. Afinal, minha mãe me levava ao ginecologista desde meus doze anos. Agora, freqüentar mastologista com vinte anos de idade, isso é só para as mulheres macho sim senhor.

Os olhares de compaixão das mulheres acima dos cinqüenta em cima de mim é constrangedor. Eu logo penso: pronto, está pensando que estou com câncer. Tudo bem que você pode estar com câncer sim ou pode não estar, mas não precisa me olhar com essa cara, por favor!

Segurei as lágrimas quando vi no telão de plasma mais um nódulo. Já reconheço de longe, não preciso nem esperar o médico avisar. Não chorei lá (mas já vi muitas chorarem antes de dar tempo de entrarem no banheiro). Chorei em casa e sozinha, mais com raiva do que pena de mim. Talvez mais de cansaço do que de preocupação.

Escolhi outro sábado feliz para fazer a famosa punção (que irá definir do que se trata realmente). Eu escuto minha mãe dizer que teve uma fulaninha que disse que não dói. Eu até escuto, mas sabe que é mentira ( já tinha passado por isso antes e sozinha).

De novo na clínica: ar condicionado geladíssimo; na procura de alguma revista que ainda não leu; uma mulher chora ao descobri um nódulo; outras tentam consolar; penso que já fiz três cirurgias e provavelmente esteja indo pra quarta e sei que não adiantará nada falar isso pra ela; fico calada; observo o relógio e vejo meu sábado se perdendo; a recepcionista grita meu nome.

Eu espero deitada, com as mãos na cabeça e de avental branco fora de moda o médico que demora. Dessa vez, decido não ver nada, fecho os olhos e penso na mulher que disso que não dói. O médico chega e pronto. Como uma sádica tem capacidade de dizer que enviar uma agulha enorme bem no fundo do seu peito, sem anestesia, sangrar horrores a ponto do avental branco virar vermelho sangue, colocar gelo depois para arder mais ainda, tirar um pedaço minúsculo do tal nódulo para fazer biópsia, NÃO DÓI? Vaca, penso instantaneamente.

Chorei como qualquer mulherzinha. Além disso, fiz questão de dizer em alto e bom tom na recepção que aquele exame dói pra caralho. Melhor prevenir do que iludir.

Sei que a cirurgia dói mais ainda. Sei que fazer quimio deve doer muito mais. Sei que precisar retirar a mama deve ser uma puta barra. Sei ou imagino tudo isso, mas eu cansei.

Cansei de ser mulher pra ter que passar por coisas bem de mulherzinha. Talvez por isso sonhe em só ter filhos homens.

Sinceramente, o sábado não é um bom dia para sofrer.
By Fulana

3 comentários:

Carmem Veruska disse...

Fiz recentemente uma punção na tireóide e como doeu aquela agulha no pescoço... bom, espero que dê tudo certo para nós duas... (eu farei cirurgia). Bjs e feliz páscoa!!!! Ah! Gosto muito desse blog!

Pri S. disse...

Minha avó materna teve duas vezes. Passou por punção, quimio, trocentos exames, retirada da mama. Tudo isso depois dos 60 anos. Está ótima hoje em dia. O durante não é mesmo fácil, mas as nuvens se dissipam e o sol pode voltar. :-) Força.

Anônimo disse...

Sinceramente nenhum dia é bom para sofrer, e passar por estas situações só sendo mulher, porque "macho" não quer nem fazer um toquezinho rssss...

Minha irmã caçula quando fez sua primeira punção levantou da mesa e quase bate na médica e enfermeira...rsss acho que minhas experiências com estes exames foram menos traumáticas, até da tireóide já fiz e não doeu tanto assim, acho que tenho tido mais sorte com os médicos... rssss

Bjsssssssssssss
MamiS