segunda-feira, 12 de novembro de 2007

É preciso sofrer pra fazer algo bonito?

Rubem Alves em suas crônicas diz: "a ostra só faz pérola quando ela esta sofre porque ela se livra da dor das arestas do grão de areia que se aninhou dentro dela." E assim somos nós seres humanos. Fazemos algo belo quando estamos tristes.

Sinceramente, fico em cima do muro, com esta afirmação. Será que todos os poetas, escritores são pessoas tristes por isso conseguiram escrever coisas tão lindas?

Então, falar do sofrimento é belo? É bom? Devemos cultuar o sofrimento para fazermos coisas belas? Não é paradoxal esta afirmação?

Eu não quero ficar triste. A tristeza me deixa triste. Me angustia. Me sufoca.

Sábado estava conversando com uma amiga. Disse a ela que amava tomar café na livraria e trocar idéias. Fiquei com saudade. Lembrei do tempo (parece distante) que as amigas almoçavam e depois iam pra livraria tomar café, conversar, falar dos planos, dos anseios...

Acho que esta livraria tem algo mágico. Quando estamos nela nos sentimos a vontade. Falamos dos nossos segredos que só contamos pra nosso traviseiro.

Fiquei triste. À noite li esta crônica de Rubem Alves. Será que ele tem razão?

by Beltrana

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu interpreto esta frase do Rubem da seguinte forma: que devemos passar por momentos de tristeza para valorizar o que temos. E não acho que todos os poetas sejam tristes embora, me identifique com muitos poemas de Pessoa (rss.... vou deixar o poema de uma cara que acho demais ( Osvaldo Montenegro)

Metade

Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
pois metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que falo
não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimento
porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
e a outra metade um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
que me lembro ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança do que fui
e a outra metade não sei
Que não seja preciso mais que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço
Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
porque metade de mim é platéia
e a outra metade é a canção
E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também.

FULANA E SICRANA disse...

Como já dizia Vinícius, "mas pra fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza..." Será?

Sicrana